sábado, 12 de dezembro de 2009

Saber Comer para Bem Crescer

O acto de comer, para além de satisfazer necessidades biológicas e energéticas inerentes ao bom funcionamento do nosso organismo, é também fonte de prazer, de socialização e de transmissão de cultura.

Hábitos alimentares saudáveis começam logo pela amamentação
A amamentação, para além das funções de nutrição e de imunização, tem outras funções igualmente importantes: permitir o estreitar dos laços afectivos (vinculação) e permitir que o bebé comece a autorregular-se (aprende a lidar com a saciedade ao decidir quanto e quando vai mamar). Como o leite materno muda consoante a dieta da mãe, o bebé vai contactando com diferentes sabores (daí que seja crucial que a mãe tenha uma alimentação variada e equilibrada).

Ter gosto por comer desde cedo
Por voltas dos 6 meses o bebé começa a experimentar um novo mundo: as papas, as sopas e as frutas. Essa adaptação nem sempre é fácil. Mas ele precisa da sua persistência e calma!

Não torne a hora da refeição do seu bebé numa guerra. Dê-lhe tempo para se habituar a novos sabores e texturas.
Aos poucos vão-se introduzindo os sólidos, é tempo de reunir o seu bebé em família (isto deve acontecer até o primeiro ano de vida do bebé). Para tal, gradativamente, o bebé deve comer o mesmo que os pais (com possíveis ajustes na consistência) e junto deles. Assim, importa que a alimentação dos pais seja cuidada e variada.
O prato do bebé deve ser composto por alimentos diversos e coloridos (o que seduz a criança a comer). A variedade evita que este venha a ser demasiado selectivo; opte por separar os diferentes alimentos no prato para que ele sinta o gosto de cada um (tenha gosto por comer).

Aprender vendo
O facto de estar à mesa em família, é da maior importância não só porque a refeição é um momento de comunicação e de aproximação à família, bem como por ser um veículo de aprendizagem. De nada adianta ditarem-se regras à mesa, estas aprendem-se por imitação. Por isso não se esqueça: vocês são o modelo do vosso filho. Se querem que ele coma de tudo, dê o exemplo; se querem que ele esteja sentado e quieto, permaneça centrado no momento da refeição e da família. Comuniquem com o vosso filho, ele sentir-se-á bem e com isso haverá menor tendência a dispersar. Como o momento é de refeição e não de lazer... evite as brincadeiras e a televisão para ele comer — senão o sentido de comer e saber estar à mesa perde-se!

Não é birra, é luta pela autonomia
Cada passo pela sua independência é uma batalha. Por isso não se admire se o seu filho recusar a sua ajuda! Não veja isso como uma luta pelo poder, mas antes como uma luta para ele aprender sobre si próprio — “oh estou a crescer”!
As suas capacidades motoras correspondem às suas necessidades, já é capaz de fazer a pinça e com isso segurar a colher. Deixe-o comer sozinho e dar-lhe a consciência de que é capaz. Se ele quiser experimentar os alimentos com as mãos, cheirar, apreciar as diferentes texturas — não o repreenda, pois apenas lhe dará o sentimento de que não é capaz de comer sozinho. Não se esqueça que as regras não se ditam. Ele, por observação, aprenderá que se devem utilizar talheres! Mas não aprenderá a gostar de comer se a sua experimentação for constantemente refreada.
Para que a criança valorize e deseje a comida, tem de a associar às suas próprias motivações, apetite e prazer. Nunca force o seu filho, nem recorra a recompensas para ele comer (assim comerá pela recompensa (motivação extrínseca) e não por ele saber que comer lhe fará bem (motivação intrínseca)).

Algumas dicas para o ajudar
Nunca force o seu filho, nem recorra a recompensas para ele comer (assim comerá pela recompensa (motivação extrínseca) e não por ele saber que comer lhe fará bem (motivação intrínseca)).
Não entre em conflito se vir o seu filho a ter um mau comportamento à mesa, mas também não valorize esses comportamentos, senão só tenderão a repetir-se! Acabe simplesmente com o jantar do seu filho. Ignore-o enquanto ele quiser ser o centro das atenções.
Ofereça menores quantidades (um prato mais vazio é mais apetecível).
Não lhe ofereça comida entre as refeições. Ele não compreenderá que terá de comer aquando a refeição se souber que terá comida à sua disposição mais tarde.
Convide-o a participar na preparação dos alimentos. Assim terá maior gosto por comer o que ajudou a preparar.


Transtornos Alimentares na 1ª Infância
Quando se verifica uma falha persistente na alimentação da criança, reflectindo-se na sua incapacidade de aumentar de peso ou mesmo perda de peso significativa ao longo de pelo menos 1 mês, estamos presente um Transtorno Alimentar na 1ª Infância. Estas crianças são, geralmente, irritáveis e difíceis de consolar durante o período da alimentação. Nos restantes períodos podem ser, pelo contrário, apáticas e retraídas, bem como apresentar atrasos no desenvolvimento.
Quando existe excesso de alimento oferecido, voracidade a comer e atitudes extremadas dos pais (de superprotecção ou de falta de atenção), a criança experimenta o vómito que resulta de uma forte contracção abdominal que expele o alimento sob a forma de jacto. Se se verificarem com muita frequência podemos estar diante de uma dificuldade emocional da criança (chamada de atenção, protesto ou medo de perda).

Problemas de recusa alimentar ou anorexia podem apresentar-se das seguintes formas: - logo na amamentação, as crianças demonstram passividade diante do alimento, não realizam movimentos de sucção e negam-se a comer. As causas podem ser fisiológicas (reflexo de sucção mais lento, fluxo do leite, mamilo da mãe, pouca necessidade de alimento) ou psicológicas (reacção negativa automática desencadeada pela ansiedade da mãe); - ao segundo ano de vida, relacionada com uma diminuição das necessidades do organismo da criança (muitas vezes há a ideia errada de que as crianças precisam do mesmo alimento que precisavam nos primeiros 12 meses); - a nervosa, que se apresenta geralmente aos 12 anos.

Os números de casos de obesidade infantil são cada vez mais assustadores. Além das limitações físicas causadas pela obesidade, existem perigos inerentes a esta como, pressão arterial, colesterol elevado, diabetes tipo 2 e doenças a nível das articulações. Se a obesidade não for controlada a taxa de doenças cardíacas, de cancros e de acidentes vasculares na idade adulta aumentará de forma preocupante. O melhor tratamento para a obesidade infantil está em levá-los a fazer mais exercício físico e em ensiná-los a levar uma alimentação saudável, reduzindo o consumo de calorias e de gorduras.

Faça da alimentação saudável e da actividade física uma prática comum — melhora a saúde do seu filho e a vossa saúde enquanto família!

2 comentários:

  1. Esta é uma das minhas dificuldades enquanto educadora. Eu acho que muitos desses passos devem ser dados pelos pais. O tempo e a persistência que são necessários não são o suficiente na escola, não temos tempo para essa aprendizagem, no entanto tento que seja um momento tranquilo, apesar de serem várias crianças ao mesmo tempo que estão a precisar da atenção.
    Objectivos que tracei: adquirir habitos alimentares, novos sabores, identificar os alimentos e saber nomea-los.
    Regras à mesa: não levantar da mesa e não importunar o colega do lado.
    Por último: desenvolver a autonomia.


    Beijo e bom trabalho!

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  2. Este post foi dedicado sobretudo aos pais, pois muitas vezes, num mundo de corre-corre a alimentação é cada vez mais desprezada. Assim o meu apelo é para que os pais tenham sempre em consideração que estar à mesa é mais do que comer, há regras, controlo, autonomia, aprendizagem, estimulação sensorial... saltar estes momentos, é evitar oportunidades!
    Quanto à tua questão... é de todo pertinente. No ambiente de creche, onde também temos um papel crucial na formação, e apesar de tudo dever começar em casa, também podemos dar uma mãozinha. Tudo começa com a escolha da ementa que as escolas servem... daí a importância de ser uma nutricionista a executá-las com variedade e com selecção de alimentos importantes para a faixa etária. Do mesmo modo, a definição em conjunto com os pais do modo e do quando da introdução dos sólidos.
    Depois, como referes, à medida que as alimentos são servidos a nomeação é muito importante, pois para além de se trabalhar a alimantação também a linguagem...é como se estabelecesse uma ligação entre a criança e o alimento.. acho que a criança terá maior confiança se souber o que está a comer, pois o adulto sabe nomeá-lo, do que se não houver essa informação e simplesmente se colocar o alimento à frente. estabelece-se uma espécie de empatia pelo alimento.
    Quanto às regras, aqui não poderemos funcionar como modelos, pois não nos podemos sentar à mesa com as crianças e partilhar a refeição, contudo devemos funcionar como orientadores e daí as regras que referes: não levantar da mesa sem se ter dado por terminado o momento de refeição, bem como brincadeiras à mesa e comportamentos inoportunos, ou seja saber respeitar os outros e o momento. O factor reunir as crianças todas à mesa, é uma forma de representação de um grupo social, como a família, assim, funciona um pouco à semelhança desta. Ou seja, se os colegas se sabem comportar e respeitarem-se, mais facilmente a criança tenderá a ser consistente com esse comportamento grupal.
    Depois, e por último, a alimentação como uma conquista da autonomia. Todos nós sabemos que existem timings para o período da refeição e por vezes temos de auxiliar as crianças a comerem, até para poderem estar a par dos restantes elementos do grupo (pois se virem que já estão todos no segundo prato a caminho da fruta, em vez de se despacharem para os tentarem alcançar, o mais provável é desanimarem e desistirem de comer). O que recomendo, para não nos afastarmos desta ideologia de promover a autonomia, enquanto auxiliamos, devemos fazer com que a criança segure no talher e então sim, nós auxiliamos no movimento, colocando a nossa mão por cima da dela. Assim, mesmo com ajuda, é a criança que está a comer!

    Espero ter contribuído agora, não só para os pais, mas também para todos os que trabalham diariamente com crianças e sentem as dificuldades do período da alimentação.

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