domingo, 20 de setembro de 2009

Educação para o Olhar

O olhar a qual me refiro é o olhar crítico e científico que devemos ter quando estamos a trabalhar, um olhar que deve ser treinado para que ele não distorça o que estamos realmente a ver. O que cada pessoa seleciona para ver depende das suas experiências e bagagem cultural, assim o tipo de formação que essa pessoa teve, influencia o observador quanto a uns aspectos e a desviar-se de outros.
A observação é considerada um instrumento de investigação científica, mas para tal precisa ser controlada e sistemática, o que implica um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador. O acompanhamento do desenvolvimento global da “criança” é muito importante, para que ela possa criar condições de desenvolver sua personalidade integralmente e não apenas adquirir conhecimentos.

O que é planejar a observação? É determinar o “quê” e o “como” observar. De acordo com Patton (1980) “para realizar as observações, é preciso preparo físico, material, intelectual e psicológico”. O observador precisa fazer registros descritivos, saber separar os detalhes triviais dos relevantes e utilizar métodos rigorosos para validar as suas observações.
A observação possibilita um contato pessoal com o fenômeno, sendo a experiência directa um dos auxiliares no processo de compreensão e interpretação do objeto de estudo, visto que o acompanha in loco nas experiências diárias. A introspecção e a reflexão têm um papel importante na pesquisa naturalística assim como permite coletar dados de situações que são impossíveis em outras formas de comunicação.
O observador não deve se envolver muito no objeto de estudo, pois isso pode levar a uma visão distorcida dos fatos. Guba e Lincoln (1981) acham que essa distorção é menor do que se pensa, justificando que “os ambientes sociais são relativamente estáveis”.

O próximo passo será determinar o grau de envolvimento do observador. Poderá começar como total participante e depois, gradualmente se distanciar ou, pelo contrário, aproximando-se do objeto de estudo à medida que o vai conhecendo. O observador pode decidir desde o início qual será a sua postura, não deixando de ser flexível, mas nunca deixar totalmente claro o que pretende com o grupo para que não haja alterações significativas.

Qual será a duração de permanência do observador em campo? Estudos feitos por Ross e Kyle (1982) demonstram que varia entre seis semanas e três anos. A decisão sobre a extensão do período de observação deve depender do tipo de problema que está a ser estudado e do propósito do estudo.
Quando se sugere que se separem os detalhes triviais dos relevantes, perguntamos-nos quais serão essas observações. Bogdan e Biklen (1982) apresentam várias sugestões:

• Descrição dos sujeitos - aparência física, modo de vestir, falar e agir.
• Reconstrução de diálogos – depoimentos, observações e gestos.
• Descrição de locais – ambiente onde é feita a observação.
• Descrição de eventos especiais – o que ocorreu, quem estava envolvido e como se deu esse envolvimento.
• Descrição das atividades – atividades gerais e os comportamentos.
• Comportamento do observador – suas anotações, ações e conversas com os participantes.

E as expectativas? O observador desde o início tem suas expectativas, suas idéias quanto ao objeto de estudo. A reflexão sobre essas expectativas também é necessária para ver se houve alteração das perspectivas do observador.
O registro pode ser feito na hora da observação por filme, foto ou descrito manualmente, no entanto, pode ser inviável, porque o registro em frente aos participantes pode influenciar o seu comportamento, mas deve ser feito o mais rápido possível para que, o que é observado na hora, não seja esquecido ou modificado com o passar do tempo. É necessário registrar as observações realizadas durante todo processo, para ter condições de ir redirecionando seu trabalho no sentido de ajudar os participantes as construírem novos conhecimentos. Os registros de cada dia servirão de subsídios para o observador planejar o dia seguinte. Na ausência de anotações, o observador poderá perder de vista quais os participantes que estão conseguindo avançar, quais os que necessitam retomar determinados aspectos e, enfim, quem são os que podem prosseguir com tarefas mais avançadas.

Assim, a função do registro não é rotular o participante, mas verificar o conhecimento que já construiu e identificar as interferências necessárias para que possa prosseguir no processo de construção.
“O relatório permite que o professor estabeleça relações entre fatos distintos no tempo, levante hipóteses e, principalmente, troque e discuta seu trabalho com os outros educadores, o que garante a multiplicidade de leituras e o seu crescimento profissional.” WEISZ, 1990

A entrevista é uma das principais técnicas de trabalho realizadas em pesquisas. A razão pela qual a entrevista é vantajosa é que ela permite pôr em prática tudo o que escrevemos para trás. Temos uma captação imediata e corrente da informação que desejamos. Podemos fazer entrevistas de forma mais flexível, em que o assunto pode ser discursado pelo entrevistado da maneira que ele quiser, ou pode ser uma entrevista mais cuidadosa, com um guião para orientar a entrevista.

Outras condições seriam:
• O respeito pelo entrevistado;
• O respeito pelos horários;
• Sigilo e anonimato;
• Vocabulário adequado;
• Escuta e observação e
• Confiança.

Thiollent (1980) refere que “o entrevistador precisa estar atento não apenas ao roteiro e às respostas que vai obtendo. Existem os gestos, expressões, entonações, sinais não verbais, hesitações, alterações de ritmo, etc.” É preciso analisar e interpretar o discurso como um tudo.

Por fim, a analise dos dados qualitativos que suscita alguma confusão. Que devemos ter em conta? Segundo Caulley (1981) a analise documental procura identificar informações factuais. Para todas as hipóteses devemos ter uma fundamentação teórica que nos dê apoio documental à nossa prática observada indicando problemas que podem ser explorados através de outros métodos.
Qual a caracterização desses documentos? Será um único tipo de material ou uma mistura? Segundo Patton (1980) “a analise de dados qualitativos é um processo criativo que exige grande rigor intelectual e muita dedicação. Não existe uma forma melhor ou mais correta. O que se exige são sistematização e coerência do esquema escolhido com o que pretende o estudo”.

Bibliografia:

BOGDAN, R. e BIKLEN, S.K. Qualitative Research for Education. Boston, Allyn and Bacon, Inc. 1982.
CAULLEY, D.N. Document Analysis in Program Evaluation (60 na série Paper and Report Series of the Research on Evaluation Program). Portland, Or. Northwest Regional Education Laboratory, 1981.
GUBA, E.G. e LINCOLN, Y.S. Effective Evaluation. San Francisco, Ca., Jossey-Bass, 1981.
PATTON, M.Q. Qualitative Evaluation. Beverly Hills, Ca., SAGE, 1980.
ROSS, D.D. e KYLE, D. W. Qualitative Inquiry: a review and analysis. Trabalho apresentado no Encontro Anual da AERA. New York, Março de 1982.
THIOLLENT, M. Crítica Metodológica, Investigação Social e Enquete Operatória. São Paulo, Edit. Polis, 1980.

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