domingo, 13 de setembro de 2009

Ludicidade


A ludicidade é a atividade mais significativa da infância até à fase adulta. Permite a diversão, a aprendizagem e o desenvolvimento de capacidades. É um fato que todas as crianças de todas as culturas brincam e que a atividade lúdica é o principal veículo da infância para aceder a grande parte do conhecimento sobre si mesma e sobre o mundo.
Ao longo do tempo, a criança vai adquirindo novos interesses: do jogo do corpo nos primeiros meses até ao jogo de menor ou maior complexidade, passando pelo jogo simbólico e o de movimento. A atividade lúdica infantil evolui da prática solitária dos primeiros anos ao jogo partilhado com adultos e outras crianças. Durante esses primeiros anos de vida, desenvolvem-se as capacidades que constituem os fundamentos da evolução psicológica das pessoas, razão pela qual se deve prestar mais atenção a algumas das características da atividade lúdica nos primeiros seis anos. Não significa que a sua importância desapareça nas idades posteriores, mas que a criança combina a brincadeira e o jogo com outros tipos de atividades de complemento curricular.

A atividade lúdica permite a exploração livre do mundo físico e social que rodeia a vida quotidiana dos mais pequenos. Assim estes podem aceder a múltiplos e variados aspectos do seu mundo e ir construindo progressivamente os seus conhecimentos sobre diferentes parcelas da realidade. Como permite o uso de diferentes capacidades da criança e com muita frequência exige esforço para melhorar a sua participação ou os rsultados que obtêm ou até para para poder chegar a brincar. A criança explora suas emoçoes e sentimentos com liberdade.

A importância do jogo no desenvolvimento é avaliado a partir de várias perspetivas teóricas: na psicanálise segundo Freud, Winnicott; no construtivismo segundo Piaget. Citar algumas das discussões pode mostrar a complexidade do estudo desta atividade humana. A própria definição de jogo é objeto de debate, dada a grande variedade de atividades que se podem considerar lúdicas e a grande quantidade de variáveis que fazem com que determinada atividade seja considerada jogo. Com frequência relaciona-se mais diretamente o valor psicológico da atividade lúdica com a sua utilidade na aprendizagem, se bem que os seus benefícios para o desenvolvimento psicológico das crianças sejam múltiplos. Vinculadas de forma direta com as suas características de atividade agradável, voluntária e livre, podem assinalar-se essencialmente duas das contribuições da atividade lúdica:

Em primeiro lugar, serve para equilibrar e controlar a energia. Neste sentido, reforça-se a importância atribuída à atividade lúdica como necissidade biológica, que permite a descarga de energia através da diversão, e favorece o equilíbrio psicológico, compensando a tensão e o autocontrolo que a criança experimenta apo longo da sua atividade diária. Além disso, as experiências satisfatórias da criança nas atividades lúdicas contribuem para gerar novas energias para o resto das atividades.

Em segundo lugar, as crianças expressam livremente emoções e sentimentos que, no contexto das relações quotidianas, não demonstrariam nem seriam recebidas e interpretadas do mesmo modo pelos outros. O interessante é a expressão dos sentimentos negativos com os quais a criança, no contexto do jogo, pode aprender a lidar com, por exemplo, a rivalidade. Estas contribuições evidenciam o erro de conceber a brincadeira e o jogo como perda de tempo e de considerar a diversão uma função pouco interessante para o desenvolvimento e aprendizagem da criança.

A atividade lúdica no contexto escolar pode assinalar-se em duas atitudes: pode considerar-se um instrumento para que as crianças aprendam os conteúdos escolares; por outro, pode servir para compensar o esforço que as situações de ensino e aprendizagem dos conteúdos escolares implicam, levando-as a recuperar energia para continuar com as tarefas escolares. No entanto, sabemos hoje que ambas não se excluem. O jogo pode ser utilizado na escola para aprender e relaxar.

Quando se utiliza o jogo na aula como propósito de ensinar, como sucede com outras atividades, o corpo docente estabelece os objetivos que deseja atingir, isto é, toma decisões sobre as competências que quer ajudar a desenvolver nos seus alunos; planifica os conteúdos que se vão trabalhar por intermédio do jogo para atingir os objetivos propostos e também as atividades lúdicas: qual vai ser a sua intervenção, uqe vai pedir às crianças para fazer, que materiais vão usar, quando o vão fazer, quanto tempo lhe vão dedicar, etc. E, como é evidente, planifica o modo de avaliar o desenvolvimento da atividade lúdica e os resultados obtidos pelos alunos.

As atividades lúdicas fornecem um ambiente afetivo e social que contribui para uma maior disponibilidade da criança para aprender. Este aspecto está a ser cada vez mais considerado na atualidade, dado o seu valor educativo, sem cair todavia na tentação de considerar que todas as competências que se pretende desenvolver na criança na escola devem ser desenvolvidas através do jogo.

Os jogos são intemporais, aparecem e desaparecem consoante as modas do momento, mas subsistem para voltar ao fim de algum tempo, fazem parte da nossa infância e farão parte da dos nossos filhos. Partilhá-lhos com eles e ensinar-lhos é uma forma de diversão em conjunto e de lhes demosntrar o nosso carinho. Um fato que se deve valorizar é o das crianças disporem dos materiais de jogo necessários de forma totalmente autónoma , uma vez que estes são escassos ou muito simples, podendo elas próprias fabricá-los com os mais diversos objetos. Esta capacidade para satisfazer as suas próprias necessidades implica um reforço da auto-estima e da autonomia das crianças, dado que, em qualquer outro campo, dependem dos adultos para encontrar aquilo de que precisam.

A atividade lúdica também permite que as crianças aprendam a conviver respeitando as diferenças das restantes crianças, objetivo muito importante para o seu desenvolvimento. As atitudes de tolerância e respeito surgem do afeto e do conhecimento mútuos. Se observarmos as brincadeiras infantis, verificamos que as crianças conseguem integrar as diferenças de modo a cada uma jogar em função das suas capacidades e características, sem que pareça problemático. Surgirão dificuldades em idades posteriores, se antes não tiveram a possibilidade de experimentar estas relações de convivência e aceitação mútua. Apesar de com as suas particulariedades, estas tendências são igualmente perceptíveis em relação às diferenças de capacidade intelectual, diferenças de género e diferenças sociais e culturais. Desenvolver estas qualidades implica uma vontade explícita de intervenção educativa, tanto na família como na escola ou noutros âmbitos da comunidade, uma vez que os valores das atividades lúdicas refletem os da sociedade.

Não é obra do acaso todas as crianças brincarem, nem o princípio 7.º da Declaração Universal dos Direitos da Criança reconhecer a importância desta atividade, equiparando-a a direitos tão reconhecidos como a alimentação ou a saúde.
«A criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a atividades recreativas, que devem ser orientadas para os mesmos objetivos da educação; a sociedade e as autoridades públicas deverão esforçar-se por promover o gozo destes direitos.»


Bibliografia

Assembléia Geral das Nações Unidas, Declaração Universal dos Direitos da Criança, 1959
Enciclopédia dos Pais de hoje, Como ser melhores pais, Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2002.
Enciclopédia dos Pais de hoje, Jogos e Actividades, Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2004

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